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segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

O frentista piauiense


O sotaque já entregava. Antes mesmo de perguntar a naturalidade do frentista por mim abordado, já sabia que de Curitiba ele não era. O "R" típico não enganava e de uma coisa eu estava certa: ele era nordestino. Depois de algum tempo de conversa, ele, enfim, confessou: nasceu e foi criado em Piauí.
Devaldo tem 34 anos e está em Curitiba há menos de um mês. Deixou o  interior de seu estado e veio direto para a capital do Paraná. Embora tenha vindo completamente sozinho, o que não falta na Grande Curitiba são parentes. Eles são tantos que Devaldo diz ainda não ter tido tempo para fazer uma visita a todos. Mesmo estando em Curitiba há menos de um mês, o piauiense diz já ter feito alguns amigos, principalmente no posto de gasolina onde trabalha.
Como muitos, o motivo da saída de sua terra natal  foi a busca por novas oportunidades.  Até agora, o frentista não está arrependido. “Cheguei e já consegui esse emprego. Tô gostando bastante, é como eu imaginava”, diz Devaldo. Ao ser questionado por mim como conseguiu o emprego nos primeiros dias na nova cidade, ele confessa: “O gerente é meu parente”.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

A frutaria móvel de João Paulo



Não é raro avistar caminhões carregados de fruta estacionados nas ruas de Curitiba. Os vendedores utilizam o meio de transporte também como vitrine para suas mercadorias, que são, sem cerimônia, expostas praticamente na rua.
João Paulo, 30 anos, é um desses vendedores. Seu caminhão só estaciona no último mês do ano. Durante os outros 11, a “frutaria” circula pelas ruas da cidade. O motivo da parada acontecer em dezembro são as tradicionais festas de fim de ano. “O pessoal gosta muito de frutas para montar a ceia de Natal e do Ano Novo. Uva é o que mais sai”, explica o vendedor.
No mesmo ofício “há algum tempo”, João Paulo diz gostar do trabalho. Não é monótono e permite que ele “passeie” pela cidade durante a maior parte do tempo. A exceção fica para dezembro, quando a clientela aumenta e o ponto de venda tem que ser estabelecido. 

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

O guardador de carros apaixonado por natação



Seu João, 54 anos, era jardineiro há um ano arás. Desde então, trabalha como guardador de carros no estacionamento de uma academia. Apesar de gostar do trabalho, reclama que em dias quentes a guarita esquenta muito, fazendo com que ele tenha que ficar do lado de fora, na sombra. Fora isso, o emprego é satisfatório. “Até academia de graça eles me oferecem”, comenta sorrindo.
Falador, o homem dos olhos azuis claríssimos não dispensa uma boa conversa. Por ficar muito tempo sozinho na guarita, quando aparece alguém Seu João não perdoa:  começa logo a puxar papo. Já na hora de tirar a foto, escuto uma voz animada dizendo: “Tem que ter entrevista também, não tem?”. E não adianta, quando dou por mim, lá estou eu, após a entrevista, jogando conversa fora com o simpático guardador.
Nascido no interior do Paraná, o hobby preferido de Seu João é nadar. “Adoro nadar! Aprendi sozinho, nadando nos rios do interior”, conta, relembrando os velhos tempos. Comento que não sei quase nada de natação. Ele, então, me dá dicas para aprender sozinha: “Eu gostava muito de rio, mas não sabia nadar como os meus amigos. Um dia peguei  uns pedaços de tronco de mamona e amarrei um no outro. Subi  nos troncos e saí nadando, em cima deles. Isso longe dos meus amigos porque eu morria de vergonha! Depois de um tempo, entrei no rio sozinho, sem os troncos, e já estava nadando. No seu caso é só trocar os troncos por uma boia”, indica seu João.
Conversa vai, conversa vem, nem percebo que estou conversando com o guardador de carros há mais tempo do que o meu relógio permitia. Antes de ir embora, Seu João me lembra: “Quando souber nadar, volta aqui pra me falar se o que eu disse não funciona!”. E eu, claro, fico de voltar para relatar como foi meu aprendizado.
Taí, já tenho uma meta para as férias de fim de ano: tentar aprender a nadar à la Seu João. Quem sabe um dia eu também não consiga alcançar o feito do guardador de carros e dizer entusiasmada como ele: “sei nadar até de costas”.

sábado, 22 de dezembro de 2012

De gerente de uma grande empresa a Papai Noel da XV



Não está fácil pra ninguém. Até mesmo Papai Noel foi visto em um dia quente de dezembro zanzando pelo calçadão da rua XV de Novembro. Animando quem passava pelo local – em especial às crianças –, o jovem Papai Noel se divertia junto com os pedestres. O moço magrelo de vermelho que tentava conquistar potenciais clientes era Fábio, de 27 anos. Apesar de faltar gordura e idade, a simpatia do “bom velhinho” era uma característica comum a ambos.
De gerente de um grande negócio a desempregado. Foi assim que Fábio se viu há pouco tempo atrás, após perder o cargo na empresa em que trabalhava. Depois de tanto procurar, o atual Papai Noel da XV viu nas vagas de emprego de fim de ano uma boa oportunidade. “Não é fácil mudar assim e tudo fica mais difícil quando se tem um filho pequeno para criar”, explica.
Carismático, Fábio não vê a situação como um estado de decadência. O importante é não deixar de ir atrás do que se quer. Embora o trabalho de Papai Noel não seja o que o ex-gerente realmente procura, ele enxerga a situação com bons olhos. “O gratificante é ver o sorriso que eu coloco no rosto das pessoas. É isso que importa agora”, comenta satisfeito.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

O personal trainer cheio de qualificações



Ricardo é professor e personal trainer na Academia Viva. Dos seus 23 anos de idade, dois foram dedicados à profissão. Há um ano e meio na mesma academia, o moço de sorriso largo não hesita quando questionado se gosta do que faz: “Adoro!”.
Graduado em Educação Física e especialista em Fisiologia do Exercício pela UFPR, Ricardo é, não raramente, requisitado pelos próprios alunos da academia para ministrar palestras. Os assuntos abordados são os de seu domínio: atividade física e saúde.
Além dos títulos que garantem a qualidade do profissional, o personal trainer também é pesquisador do Centro de Pesquisa em Exercício e Esporte, também da UFPR. Quatro horas semanais são dedicadas ao Centro de Pesquisa, que é focado em crianças e adolescentes.
Para aqueles que pensam – erroneamente – que atividade física e atividade intelectual são antônimos, Ricardo parece ser um belo banho de água fria.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Simpático, vaidoso e carteiro


Fernando tem 23 anos e atualmente trabalha distribuindo correspondências: é carteiro – e um daqueles que são pura simpatia.
No dia em que eu o encontrei, a tarde estava tipicamente não curitibana: a temperatura ultrapassava os  30ºC e ventava muito pouco.
Em dias quentes, o trabalho do carteiro se torna mais puxado. O sol incomoda e a caminhada a ser cumprida faz com que ele transpire mais do que o desejado. O chapéu, para proteger o rosto, e os óculos escuros são a saída – embora, vaidoso, Fernando tenha colocado os óculos apenas para a foto.
Além de carteiro, vaidoso e simpático, Fernando também é contador. “O meu trabalho principal é ser carteiro, contador eu só tento ser”, diz entre risos.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

O polaco de poucas palavras


Valdir tem 44 anos e é motoboy. Essas foram as poucas informações que eu consegui tirar do homem de pele, olhos e cabelos claros. O lábio fino é mais uma marca da clara descendência polaca.
O rosto fechado não engana: Valdir é uma pessoa fria. Custou algum tempo para que eu o convencesse a olhar para a câmera na hora do click. No fim, ele olhou. Mas contrariado.
Depois de ter tirado a foto e das poucas perguntas com respostas que obtive, agradeci – sem resposta. Ao sair, aparentemente também não fui merecedora de um tchau. Ao menos a foto eu tinha em mãos.

domingo, 16 de dezembro de 2012

O locutor do blazer amarelo



O calçadão da XV, palco de inúmeras figuras, é o local de trabalho do locutor comercial Gerson Batista Ribeiro, o Leão Brasil. Vestindo um vistoso blazer amarelo, o locutor faz publicidade sem caixas de som, apenas com a voz.
Além de ser uma das cores da bandeira brasileira, o amarelo do blazer também é explicado de outra forma. “Quando eu era vendedor, percebi que quando usava camisa amarela vendia mais”, justifica. Adaptada para o blazer, a cor faz ainda mais sucesso.
Em 2012, Leão Brasil resolveu tirar proveito de sua popularidade e concorreu ao cargo de vereador. Tendo recebido 281 votos, ficou como suplente em Curitiba.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Seu José, o batalhador



Conheci o Seu José numa obra perto da minha faculdade. A princípio, se tratava de um caminhoneiro, mas logo percebi que também ajudava na obra em si. Tem 47 anos e é um homem simples e muito gentil. Uma daquelas pessoas que dá medo de falar alguma coisa que as machuque, mesmo sem ter a intenção.
Estava com as roupas sujas do trabalho e aparentemente ocupado. Ainda assim, me deu atenção. A primeira coisa dita por ele, quando anunciei que queria um retrato, foi: “Então, por favor, escreve aí que eu tô sujo assim não porque eu quero, mas porque eu sou batalhador. Coloca essa palavra. Batalhador”. Falou de uma maneira humilde, quase se desculpando.
Seu José me contou que sua filha estuda na UTFPR. O pai tem orgulho de ter conseguido colocar a menina numa universidade renomada, mesmo com tantas dificuldades. No entanto, não sabe dizer o que ela cursa. 
Seu José é, como tantos outros trabalhadores, um batalhador.

A serviço das revistas


Wellington trabalha entregando revistas. A bicicleta é seu meio de transporte. Tímido, o menino me conta que além de distribuir as revistas nas devidas casas, também ajuda no barracão onde ficam os exemplares. 
“É um trabalho fácil, mas demanda muito tempo”, explica ele, que tem que pedalar quadras e mais quadras até que seu cesto fique vazio e, sua missão, cumprida.

Das duas profissões, a mais tranquila




Valdecir é calceteiro. Com 42 anos, dedicou grande parte de sua vida ao ofício. Atualmente, trabalha nas obras da rua Augusto Stresser.
Simpático, de riso fácil e falador, explica que, na verdade, ele é calceteiro apenas nas horas vagas. “Na realidade eu sou mestre de obras. Às vezes fico aqui fazendo o calçamento porque é mais fácil”, garante Valdecir, entre risos. 
O sol faz com que sua pele fique quase da mesma cor do uniforme. Apesar de tudo, ele afirma que gosta do que faz. “É um trabalho bom, eu gosto. Como eu disse, é mais fácil do que o meu outro, o principal”. E cai na gargalhada de novo.

Alegria inesperada


Um rapaz de aparentemente 20 e poucos anos cortava a grama da Praça Brigadeiro-do-Ar Mário C. Eppinghaus  quando eu o abordei. Pedi para tirar uma foto.
– É um trabalho para a faculdade – expliquei. 
Ele para, pensa um pouco, me parece tímido. Então solta:
– E minha mãe, hein... Disse que eu nunca ia chegar na faculdade...
Um segundo. É o tempo que eu fico parada, pensando se devo rir ou ficar quieta, achar graça ou “sentir muito” pela falta de oportunidade do cortador de grama. Um segundo cortador acaba com a minha dúvida, caindo no riso.
– Esse Maicon... – diz ele recuperando o fôlego.
– E você, quem é? – pergunto, analisando a criatura de lenço no pescoço.
– MC Morcego, mas se precisar colocar um nome bonitinho, coloca Douglas aí, vai.

Mais uma sessão de riso. Agora dos dois.
Converso um pouco com eles, pergunto nome, idade, outras profissões... São pintores também. 
– Enfim, posso tirar uma foto de vocês?
Os dois logo se juntam – não sem antes fazer pose – para eu poder bater a foto. Fazem cara de mal, enquanto os outros cortadores olham curiosos.
– Agora eu quero uma foto de cada um, pode ser?
Antes de esperar a resposta já vou me afastando e me preparando para capturar Maicon de corpo inteiro. Tenho que ser rápida, vai que ele diz não antes de eu ter apertado o botão da máquina? 
Antes de bater a foto, ouço no fundo:
– Vai lá, Maicon! Mãozinha na cintura! Dá um show!
E mais risadas de Douglas, o engraçadinho – já as reconheço com facilidade depois de tanto ouvi-lo rir.
Tiro a foto rapidamente, antes que Maicon possa recusar.
É aí que olho para Douglas.
– Também tenho que ter uma foto sua sozinho...
– Tem é, moça?
Preparo a câmera e, na hora do click, ele acena para os colegas que estão distantes. E no maior estilo celebridade. Os outros cortadores, antes curiosos, agora riem do MC Morcego fazendo pose para sair bem na foto.
– Pronto, ficou ótimo – digo para os dois.
Agradeço a gentileza e vou embora. Enquanto vou tomando meu rumo, olho para trás e vejo os dois cortadores, Maicon e Douglas, rindo com os colegas de trabalho da situação. Eu também saio rindo. 
Quem diria...